Gouveia, que se descobre cuidadosamente espreguiçada sobre a encosta noroeste da Serra da Estrela, é a suprema entrada para a maior montanha de Portugal continental.
As soberbas e distantes vistas que daqui se alcançam, fazem justiça ao topónimo da cidade que, pela sua paisagem arrebatadora, até aos romanos impressionou. Chamaram a este sítio Gaudella, um local de vista aprazível, bela ou de regozijo, que enche o olhar e o coração a quem a vê.
As diversas referências que vamos descobrindo na paisagem, como o Coruto de Alfátima, imponente e antigo posto de vigia que é berço de lendas onde figuram Júlio César e um Emir de Manteigas, e as ruínas próximas da aldeia medieval do Castro Verde, antiga vila abandonada na sequência de pragas, provam a complementaridade milenar entre o Homem e a natureza.
Chegando ao planalto, abre-se o Vale do Rossim, local único onde da dureza do granito brota a mais cristalina das águas que, no frio do inverno, coberto de branco, aquece alma de quem aprecia as coisas belas e, no verão, convida a banhos demorados num magnífico espelho de água.
Adiante, a fonte do Mondeguinho, onde o maior rio exclusivamente português dá os primeiros passos e segue palmilhando o vale nos Casais de Folgosinho, que se abre numa janela de cores, texturas e cheiros. Foram os homens e mulheres que moldaram à sua imagem e necessidade este ambiente respeitador da natureza, desenhado com casas em xisto, onde o tempo corre ao sabor das límpidas águas do Mondego, ao ritmo dos balidos e dos chocalhos dos rebanhos de ovelhas, cujo leite produz o afamado e genuíno Queijo da Serra da Estrela.
Daí às Penhas Douradas, um pequeno trajeto transporta-nos para a salubridade dos ares da serra, à vida que aqui encontra paz de espírito.